Para Di Anna, transexual de 36 anos, ter o nome social nos documentos pessoais é uma vitória. Para isso, em 2018, ela entrou com uma petição junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TRE), solicitando a inclusão de seu nome social no título de eleitor. Na última semana, o processo terminou e ela já está com o documento.
Formada em Análises de Sistemas e Filosofia, Di Anna trabalha como consultora de negócios e digital influencer, em Bonito (MS), a 278 km de Campo Grande. Ela escolheu o nome porque ele "representa a força e a pureza do ideal feminino", e fez questão de tê-lo em seu documento eleitoral por conta dos constrangimentos que já passou em locais de votação.
“Em uma ocasião, trabalhei como técnica de urna, e a pessoa que estava na zona eleitoral, mesmo sabendo meu nome social, fez questão de me chamar pelo nome de nascimento. Foi de propósito, para me constranger. Agora acabou o constrangimento”, relembra.
Ao G1, Di Anna conta que o título de eleitor foi o primeiro dos documentos a ser mudado, mas, já iniciou o processo para mudança de nome e gênero de todos os documentos pessoais, que são permitidos por lei. Ela vê no próprio exemplo uma forma de levar informação para outras pessoas que sentem-se constrangidas por não serem chamadas pelo nome social.
“Em nome de muitas transexuais que vivem reprimidas, digo que isso significa muito para todas nós, sobretudo para a representatividade”, explica.
De acordo com Di Anna, as pessoas são mal informadas quanto aos seus direitos. — Foto: Arquivo pessoal
Moradora de Bonito há 7 anos, ela se diz muito conhecida na cidade por trabalhar com muitas empresas ligadas ao turismo, e acaba conhecendo muitos pessoas passam férias na região. Di Anna acredita que é a primeira transexual da cidade a ter o documento com nome social, pois as informações não são divulgadas em cidades do interior.
“Tive que ligar no TRE em Campo Grande e me informar. Muitas pessoas nem sabem que têm esse direito”, explica.
Ela conta que ao final do processo, foram impressos dois títulos, um com nome de nascimento e o outro com o nome social. O de nascimento ficou retido, e ela já saiu com o título de eleitor com o nome que escolheu ser chamada:
"Tenho a certeza de que vou poder exercer minha cidadania nas próximas eleições, com muito mais conforto e sem constrangimentos", finaliza.
* Estagiário supervisionado por Jaqueline Naujorks.