Uma carta que estava no bolso de Natanael Soares de Souza, de 71 anos, que matou a tiros Priscila Silva de Moraes, de 30 anos, "fecha" as versões sobre o homicídio em Regente Feijó. Conforme o delegado Claudinei Alves, da Polícia Civil, se ele tivesse feito o que registrou na carta, a "tragédia teria sido maior".

A carta
A tal carta foi mostrada por Souza aos policiais durante as negociações, após ter matado Priscila e tentado tirar a vida da esposa, Denise Alves Ribeiro, de 30 anos. "Ele falava que a carta estava no bolso. Está endereçada à polícia e tem diversas instruções", falou o delegado ao G1.

A carta é endereçada "Ao policial" e indica dois números de telefone, um fixo e um celular, para que a pessoa fale com um de seus filhos, para que ele leve seu corpo para Campo Grande (MS). Depois, há indicações para levar o outro filho, de seis anos, que estava com ele na hora do crime. A criança deveria ser entregue para um casal.

Priscila Silva de Moraes foi morta com três tiros
(Foto: Reprodução/Facebook)

Sobre o "restante", a pessoa saberia com informações em uma outra carta que estaria "grudada" na TV de sua casa. O restante do conteúdo dá instruções sobre o animais de estimação, sendo um papagaio e três cadelas, com informações, inclusive, sobre o local onde estaria guardada a carteira de vacinação e justificativas para a aparência "feia" de uma delas.

"Sei que matei 4 pessoas, mais [sic] eles influenciaram na separação nossa. A Denise [esposa] é Maria vai com as outras", é a frase com que ele encerra a carta.

As versões
Inicialmente, Souza disse aos policiais que queria matar somente a esposa e se matar em seguida. Depois, ele mudou sua versão e alegou que Priscila foi atingida acidentalmente.

"Na realidade, essa carta junta tudo e fecha a situação. Além disso, ele é suspeito na morte de um ex-namorado da esposa, mas não tenho detalhes. Ele foi investigado, fugiu para Ponta Porã [MS] e foi para o Paraguai, onde ficou dois anos. Sobre isso, aguardo resposta", comentou Alves.

Velório da vítima ocorreu na cidade de Teodoro
Sampaio (Foto: Mateus Tarifa/TV Fronteira)

A respeito da versão de que os tiros teriam sido acidentais, o delegado frisou que não é verdadeira, segundo as informações obtidas junto ao Instituto Médico Legal (IML). "É a versão de defesa dele. Mas nada muda o quadro. A única coisa que faltava fechar era a forma da morte dela".

O delegado salientou que Priscila foi atingida por três tiros. Um no cotovelo direito, que pode indicar uma tentativa de defesa, e dois no tórax. "Esses dois tiros no tórax foram letais. Um atingiu o coração e o outro o pulmão. Qualquer um deles já causaria a morte dela, que foi imediata", frisou Alves.

Outra informação que desmente a versão de Souza de que Priscila teria partido para cima da arma é de que quando ela foi atingida estava caída no chão ou ajoelhada. O delegado falou que, após a fuga de Denise, ela correu para dentro da casa e se trancou.

Priscila foi morta com uma arma de calibre 38
(Foto: Heloise Hamada/G1)

"Ela tentou sair pedindo para que ele não a matasse, ela escorregou e caiu na área e na hora em que tentou levantar ele disparou. Ele matou intencionalmente, não foi acidente. A própria esposa mesmo ele não matou porque os tiros não acertaram", enfatizou.

As quatro pessoas que ele citou na carta a polícia não sabe dizer quem seriam. Porém, o delegado afirmou que ele esteve na casa da vítima na semana passada, quando foi buscar o filho de seis anos. "Então, ele sabia quantas pessoas havia na casa. Porém, a grande questão é quem são as quatro pessoas que ele disse que mataria na carta. A tragédia poderia ter sido maior, por causa dos cartuchos encontrados com ele", pontuou Alves.

O delegado também destacou que o filho de Souza e Denise presenciou o homicídio e a criança está com a mãe. "Ele manifestou que queria ficar com a mãe e segue com ela", finalizou.

Natanael Soares de Souza está preso preventivamente por feminicídio no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Caiuá.

O corpo de Priscila foi sepultado em Teodoro Sampaio, na manhã desta quarta-feira (15).

Homem se entregou à polícia depois de 3h de
negociações (Foto: Heloise Hamada/G1)

O caso
Priscila foi baleada na manhã desta terça-feira (14), em sua residência, em Regente Feijó, quando o atirador, identificado como Natanael Soares de Souza, de 71 anos, invadiu sua residência para uma discussão com sua esposa e efetuou os disparos.

Depois de atingida, a vítima permaneceu caída no chão e o atirador não permitiu a entrada de policiais e socorristas para o atendimento à mulher baleada. Ele se entregou à polícia após três horas de negociações. A morte de Priscila Silva de Moraes, de 30 anos, foi constatada por um médico, após a rendição do atirador.

O homem armado invadiu a casa, na tentativa de uma reconciliação com a esposa, Denise Alves Ribeiro, de 30 anos, com quem teve uma discussão. No local, também estavam uma bebê de dois meses, filha da mulher que foi assassinada, e um menino, de seis anos, filho do atirador com a esposa, que conseguiram sair sem ferimentos. A esposa do atirador também saiu ilesa do local, depois de buscar ajuda da polícia.

O atendimento do caso mobilizou efetivos das polícias Civil, Militar e Rodoviária, além do Corpo de Bombeiros.

O delegado da Polícia Civil, Claudinei Alves, contou que o homem veio de Bataguassu (MS), para onde pretendia levar de volta a sua esposa, que estava morando em Regente Feijó. Caso não conseguisse, ele planejava assassinar a esposa e depois se suicidar.
Natanael foi preso em flagrante por feminicídio.